Recebi essas fotos por e-mail de minha amiga Regina Célia. Achei maravilhosas. E elas me remeteram a minha infância. Existem coisas que realmente nunca vimos. Essa é uma delas. Eu nunca vi um porco-espinho ao vivo. Lembro que na minha infância, quando passávamos férias na fazenda em que meu tio Raul era capataz, os cachorros apareciam com os focinhos cheios de espinhos. Os peões comentavam que eles tinham ido se meter com porcos-espinhos. Eu, muito pequena naquela época, rezava pra que um bicho desses nunca cruzasse meu caminho. Temia ficar como os cães, com aqueles espinhos longos e dolorosos cravados por todo o corpo. E eram muitos. E como os cães sofriam na hora de tirá-los. Ao lado da casa principal da fazenda tinha um galpão onde os trabalhadores viviam quando estavam por lá. Tinha fogo de chão todas as noites, churrasco e muitas histórias de gaúcho. Não existia luz elétrica e ficávamos ali reunidos para fazer a digestão e depois dormir porque o dia começava muito cedo. O galpão não tinha porta, só um portão vazado de madeira grossa por onde não passava uma cabeça de cachorro pequeno. Lembro como se fosse hoje. Pobres coitados. Quando eles eram atacados por porcos-espinhos, o pessoal os colocava pra dentro do galpão, fechava o portão, segurava a cabeça deles, cuidando para não machucar e para que eles não pudessem morder e puxava os espinhos um a um com um alicate pelo lado de fora. Doía muito e estavam sempre muito profundos. Eles choravam e gritavam mas depois de todos arrancados, de ser colocado algum remédio, eles saíam de lá aliviados, balançavam o rabo e vinham contentes como que agradecidos às pessoas que os tinham salvado de toda aquela dor. Olhando as fotos agora, parecem inofensivos. Com certeza os cães deviam representar alguma ameaça a eles. E, com certeza também, usam os espinhos como defesa. Pensávamos que com tanto sofrimento os cães iriam aprender. Qual o quê! Sempre aparecia algum desavisado ou teimoso que insistia em perseguir um porquinho cheio de espinhos. São lindos não? Cada vez eu me convenço mais que a natureza é um espetáculo diário. É só apreciar com sabedoria.
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