sábado, 14 de novembro de 2009

Crônica interessante...


Essa crônica, de Maria Sanz Martins saiu na Revista AG desta semana.


" Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de
domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de
vinho do Porto, dizer a minha neta:

- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado sente-se aqui do meu
lado. Tenho umas coisas para te contar.

E assim, dizer apontando o indicador para o alto:

- O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!

Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas
conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis,
a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta
saudável e forte.

Por isso, vou colocar mais ou menos assim:

É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre o seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
E satisfaça seus desejos.. Esse é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer
crescer, mas a escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim. Aproveite sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, Barcelona e à Austrália.
Cuide bem dos seus dentes. Experimente, mude, corte os cabelos. Ame para valer, mesmo que ele seja o carteiro. Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito...". Tenha uma vida rica
de vida. Vai que o carteiro ganha na loteria! - tudo é possível, e o futuro, tsc, é imprevisível.
Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela. Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor. E tome sempre conta da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance, elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status. A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de otimizar os genes da reprodução, sugere que procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação. Leia. Pinte, desenhe, escreva. E, por favor, dance, dance, dance até o
fim, senão por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre o farão.
Cultive os bons amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas mais raras de amor.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.

Era isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais uma
vez minha taça e me conte: como vai você?"

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